Sete Perguntas: Uma vacina para a América Latina ( Exame )
Jornalista: Tatiana Bautzer
03/07/2014 - O ALEMÃO CHRIS VIEHBACHER, PRESIDENTE DO LABORATÓRIO FARMACÊUTICO SANOFI, quer começar a vender no ano que vem a primeira vacina mundial contra a dengue. Se aprovada, a vacina traria receitas bilionárias à empresa suíça, que enfrentou prejuízos com medicamentos genéricos no Brasil. Em visita ao país, Viehbacher falou a EXAME na sede da empresa, em São Paulo.
1) A vacina contra a dengue é o produto mais promissor da Sanofi hoje?
Estamos em fase final dos estudos clínicos com 20 000 pacientes na América Latina e 11000 na Ásia. Tivemos resultados animadores e esperamos pedir as autorizações aos reguladores no ano que vem. Foi a primeira vez que gastamos quase 2 bilhões de dólares com uma doença que só existe no Hemisfério Sul, e tive dificuldades para explicai- isso aos investidores em Paris e Nova York. Mas o potencial da vacina é grande, de até 100 milhões de doses por ano. Seremos a única empresa com um produto contra a dengue nos próximos cinco anos.
2) Quanto a vacina pode render para a Sanofi?
Os preços ainda estão em discussão — serão diferentes por país. Por isso, não estimamos a receita ainda.
3) O senhor demitiu executivos da farmacêutica Medley, responsáveis pelo que chamou de "bagunça" na operação brasileira. É possível ganhar dinheiro com medicamentos genéricos no país?
Atuar em genéricos é fundamental para nossa estratégia em mercados emergentes, em que a maior parte dos pacientes paga os remédios do próprio bolso. A presença em genéricos garante volume maior em mercados que estão crescendo e complementa o negócio de remédios de marca. É um merado muito competitivo, e não apenas no Brasil. A gestão precisa ser diferente, e às vezes pessoas que vêm da área de remédios de marca erram. A parte boa é que os genéricos nos forçam a ser eficientes.
4) A Sanofi se arrependeu da aquisição?
Não. Estamos satisfeitos com a marca Medley e retomamos um bom ritmo de lançamentos.]
5) O baixo crescimento do país está decepcionando?
Os fundamentos da economia ainda são atrativos, mas há sinais de alerta, como a inflação. Acredito que virão ajustes depois das eleições, qualquer que seja o novo governo.
6) A tentativa do governo de trazer inovação ao Brasil com parcerias internacionais na área de remédios é eficaz?
O Brasil já não consegue competir em custo de produção — produzir aqui é tão caro quanto na França. Vocês precisam de inovação e tecnologia. A curto prazo, a estratégia do governo é correta. Mas o país precisa construir a própria capacidade de pesquisa e desenvolvimento, e não viver só da tecnologia dos outros. Um passo nessa direção é o programa Ciência sem Fronteiras, que ainda está no início.
7) O que está levando a atual onda de fusões de companhias farmacêuticas?
Quando cheguei à Sanofi, dois terços das vendas vinham de dois remédios. Gastamos 30 bilhões de dólares em aquisições, e hoje só 60% da receita vem dos medicamentos com patente. 0 resto vem de produtos de consumo (sem prescrição), vacinas e saúde animal. Algumas empresas demoraram mais nesse ajuste. Até poderia comprar mais empresas hoje. mas não vejo boas oportunidades.
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