Jornalista: John Reed, Financial Times
22/04/2015 - A
oferta da Teva Pharmaceuticals de US$ 40 bilhões pela Mylan coloca em evidência
uma empresa que há muito é um pilar da economia israelense e um nome dominante
no mercado mundial de medicamentos genéricos de baixo custo. Caso seja
bem-sucedido, o negócio vai reforçar sua liderança no mercado de genéricos -
versões que são cópias de medicamentos de marca, mais caros - e protegê-la da
perda de patente, em breve, de seu medicamento de maiores vendas, o Copaxone,
contra a esclerose múltipla.
A Agência de Remédios e Alimentos americana (FDA, na sigla em inglês) deu luz
verde na semana passada para a primeira versão genérica do Copaxone, que
representou 20% da receita da Teva e quase metade do lucro em 2014, o que
aumentou a pressão sobre a empresa israelense para encontrar novas fontes de
crescimento.
Assim como a Teva, a Mylan combina forte presença nos genéricos com seu próprio
produto com direitos registrados, de maior margem de lucro - o EpiPen, um
tratamento emergencial para reações alérgicas, que também enfrenta a competição
de genéricos.
Ao combinar-se com a Mylan, a Teva avalia que vai poder gerar economias anuais
de custos e impostos de US$ 2 bilhões, que ajudariam as duas empresas a lidar
melhor com os desafios pela frente e a desenvolver novos produtos de mais caros.
Investidores a vinham pressionando para ser mais agressiva, pois rivais como a
Actavis adquiriram operações em fusões e aquisições nos últimos 12 meses.
A Teva havia mostrado em março sinais de que entraria na onda de fusões, quando
acertou a compra da Auspex Pharmaceuticals, dos EUA, por US$ 3,2 bilhões, no
que o executivo-chefe, Erez Vigodam, chamou de "primeiro passo
importante" para impulsionar o crescimento.
A maior empresa israelense em vendas vinha adotando uma abordagem cautelosa em
relação às fusões e aquisições desde que comprou a Cephalon em 2011, por US$
6,8 bilhões, e não obteve os retornos desejados e ainda ficou carregada de
dívidas. Isso também marcou o início de um período turbulento para a Teva, que
indicou seu primeiro executivo-chefe não israelense - Jeremy Levin, que era da
Bristol-Myers Squibb, dos EUA - para comandar a recuperação. Levin saiu em
2013, após confrontar-se com o conselho de administração sobre a estratégia e
depois da renúncia, sob pressão de acionistas ativistas, de Philip Frost,
presidente do conselho, que trabalha nos EUA e o havia contratado.
A oferta pela Mylan é a primeira grande investida sob a nova liderança de
Vigodam e de Yitzhak Peterburg, que sucedeu Frost.
A Teva é maior produtora mundial de genéricos, em termos de vendas, que em 2014
somaram US$ 20,3 bilhões. Com 45 mil funcionários no mundo, a maior parte fora
de Israel, sua estratégia é muito acompanhada em seu país natal, especialmente
em um momento em que o sentimento geral contra as grandes empresas é forte.
O país foi assolado por protestos sociais em 2011, alimentados pela irritação
com o alto custo de vida. Nas duas eleições mais recentes, os políticos que
tentavam ganhar o apoio dos eleitores de classe média prometeram cobrar mais
das empresas, inclusive com o combate a brecha nas leis tributárias.
Recentes isenções tributárias generosas concedidas à Teva em troca de mais
investimentos em Israel estão sob análise minuciosa do governo. A oferta de US$
40 bilhões - recorde em um país de 8 milhões de pessoas com um pequeno mercado
doméstico - é observada de perto em Israel, mas não houve grande reação no
país, antes dos feriados de hoje, pelo Dia da Lembrança, e de amanhã, pelo Dia
da Independência. A transação, caso seja concretizada, será a maior aquisição
internacional em Israel.
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